Enquanto uma profissional atuante na área de energia, percebo de forma intensa a importância de promover e aumentar a presença feminina nesse setor que, tradicionalmente, tem sido predominantemente masculino. Contudo, a transição energética, que almeja modificar a forma como utilizamos e geramos energia, necessita, mais do que nunca, de uma abordagem abrangente e de medidas efetivas para engajar mais mulheres nesse movimento.
A presença feminina em cargos estratégicos vai muito além de apenas preencher quotas, é sobre incorporar mulheres com expertise e vivência para ocupar posições de destaque. O setor de energia, com toda a sua complexidade e desafios, necessita das competências, percepções e criatividade que as mulheres têm a oferecer.
Na minha jornada pessoal, tenho experimentado isso, sendo que mulheres incríveis tiveram um papel crucial no meu crescimento profissional e me motivaram a seguir em frente.
Os desafios enfrentados na transição energética e a importância da inclusão
A mudança para um sistema de energia sustentável é uma das prioridades mais urgentes nos dias de hoje. Relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês). Estima-se que até 2050, o setor de energias renováveis poderá criar cerca de 43 milhões de postos de trabalho, mas para que esse número tenha impacto significativo, é essencial incluir diversas parcelas da sociedade, em especial as mulheres, que ainda são sub-representadas em diversas áreas da energia. Atualmente, a presença feminina nas áreas convencionais de energia representa somente 16% das oportunidades disponíveis. Isso evidencia a necessidade de promover a igualdade de gênero nesse setor, uma vez que locais inclusivos tendem a ser mais receptivos a ideias inovadoras.
Diversidade e Lucratividade
Além de representar uma questão de igualdade social, a variedade de gênero também traz benefícios financeiros. Em 2017, conforme uma pesquisa da McKinsey, organizações que apostam na diversidade de gênero têm a chance de aumentar seus lucros em uma margem que varia de 15% a 35% conforme dados da FIGURA 1.
FIGURA 1. Probabilidade de performance financeira superior à mediana nacional do setor %
Ações para incentivar a participação feminina na indústria.
É animador perceber que estão surgindo algumas medidas para ampliar a presença feminina no campo da energia. De acordo com a Bloomberg (GEI, na sigla em inglês), em 2023, o Brasil tinha cinco empresas de energia em índice global de igualdade de gênero, dentre elas, se destacou a empresa ISA CTEEP, que tem investido em iniciativas que visam a promoção de mulheres em posições de destaque. De acordo com Cristhiani Chitero, que atua como diretora de Talentos Organizacionais na empresa, tais medidas auxiliam as mulheres a explorarem ao máximo suas habilidades e capacidades.
Além disso, o Programa Internacional de Capacitação de Mulheres na Indústria Eólica, promovido pelo Conselho Mundial de Energia Eólica (GWEC) em parceria com a Rede Global de Mulheres para a Transição Energética (GWNET), foi criado com o intuito de impulsionar o progresso profissional feminino no setor eólico. Esta iniciativa proporciona orientação, treinamento e uma rede de apoio mundial para incentivar o crescimento das mulheres (fonte).
De acordo com a FIGURA 1 apresentada em 15 de abril de 2023, a área industrial está crescendo de forma acelerada, juntamente com a participação feminina nesse setor. Mesmo sendo um avanço em comparação com os anos anteriores, ainda existe um longo caminho a ser percorrido para atingir a igualdade de gênero na indústria sustentável.
FIGURA 1. A presença de mulheres no campo
Desafios e Oportunidades para a Equidade de Gênero no Setor
Nos últimos anos, a presença feminina no setor elétrico tem crescido, impulsionada por iniciativas de inclusão e diversidade, embora ainda haja muito a ser feito para alcançar a equidade de gênero. De acordo com Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), apenas 33% das mulheres trabalham no setor, o que demonstra a necessidade de mais esforços. Além disso, ainda temos outros desafios, como diversidade de inclusão e mulheres ocupando cargos de liderança.
De acordo com a tendência mundial, algumas companhias de energia no Brasil já implementaram suas próprias políticas de diversidade e inclusão, incluindo ações para aumentar a participação de mulheres em cargos de liderança e diminuir a discriminação de gênero no ambiente de trabalho. Esses esforços são importantes para tornar o setor de energia mais igualitário e inclusivo no Brasil, garantindo que as mulheres tenham oportunidades iguais de progressão na carreira e desenvolvimento profissional.
No indicador da baixa presença de mulheres no setor de energia o número de mulheres em cargos de liderança é outro desafio bastante considerável. De acordo com um estudo realizado pela Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (ABDIB) em 2020, as mulheres que vinham ocupando cargos de decisão eram cerca de 6% apenas.
O Papel das Mulheres na Inovação e Sustentável
Como mulher que atua na transição energética, tenho plena convicção de que a presença feminina é indispensável para a inovação no setor. As mulheres têm um papel relevante na criação de conhecimento sobre emergências climáticas, embora, muitas vezes, os nomes mais lembrados sejam de especialistas homens. É necessária uma alteração.
A criação de redes de mentoria, programas de capacitação e políticas de inclusão são fundamentais para assegurar que as mulheres tenham o seu devido espaço no setor. A mudança que desejamos só será possível com a colaboração de todos, homens e mulheres, lado a lado.
Um Futuro Sustentável e Inclusivo
A transição energética não se limita à alteração das fontes de energia, mas também à criação de um setor mais inclusivo e igualitário. A transição energética justa não é possível sem a inclusão de todas as vozes, especialmente as das mulheres.
A participação em eventos da área tem reforçado minha convicção de que as mulheres não apenas são capazes de liderar essa transformação, como também servem de exemplo e inspiração para outras mulheres que desejam ingressar nesse campo.
É importante que as organizações reflitam sobre as suas práticas, assegurando que mulheres com competência sejam incluídas em todas as etapas do processo de tomada de decisão, desde a elaboração de políticas até a execução de projetos de excelência. A inclusão de mais mulheres é indispensável não apenas para atingir a equidade de gênero, mas também para assegurar um futuro mais inovador e sustentável. Mulheres líderes, com suas diversas experiências e abordagens, podem quebrar barreiras e abrir caminhos para outras, criando um ciclo virtuoso de desenvolvimento e inspiração no setor energético. Eu acredito que, ao trazer mais mulheres à frente, estamos pavimentando o caminho para uma indústria de energia mais justa, eficiente e inclusiva. E isso é algo que beneficiará a todos.
Referências:
1. https://eixos.com.br/energia-eletrica/empregos-em-renovaveis-crescem-mas-sem-diversidade/
2. https://eixos.com.br/energia/diversidade-de-genero-e-etnica-podem-ampliar-lucros-em-ate-35/
5. https://edf-re.com.br/2022/03/31/mulheres-na-energia-essencial-para-as-empresas-e-a-sociedade/
6. https://energy.worldwiderecruitment.org/pt/mulheres-na-transicao-renovaveis/
7. https://www.globalwomennet.org/the-women-in-wind-global-leadership-program/
9. https://www.osetoreletrico.com.br/a-mulher-e-a-conquista-de-espaco-no-brasil/
Autora:
Por Laís Víctor, Técnica Eletrotécnica pelo (IFCE), graduanda em Engenharia de Produção (UNINTER), Especialista em Energias, CEO da Energy Partner Assessoria e Executiva de parceria estratégica no setor de Energias Renováveis